Actualmente…

Currently…

Há muitos anos que este blog está praticamente abandonado. Se me quiserem acompanhar hoje em dia, sugiro-vos que me sigam no Instagram e que assinem a minha newsletter. Vemo-nos por lá!

I’ve been neglecting this blog for years. Nowadays, if you want to catch up with me I suggest you follow me on Instagram and sign up for my newsletter. I’ll see you there!

Das casas históricas de Amsterdão

On Amsterdam historic interiors

[Este post foi inicialmente publicado na minha newsletter a 12/05/2023. Pode ler o post na sua íntegra AQUI.]

[This post was first published in my newsletter on 12/05/2023. You can read the whole post HERE.]

Amsterdam canal house

“Uma viagem em torno de interiores históricos”: este poderia ter sido o subtítulo dos dois dias e meio que passei em Amsterdão com a minha mãe. O pretexto da viagem foi ver a exposição de Vermeer que está a decorrer no Rijksmuseum, mas acabou por ser muito mais que isso. Foram dois dias e meio intensos mas simultaneamente tranquilos, de muitas caminhadas e muito estímulo visual, e regressei com uma sensação curiosa de cérebro limpo, meio esvaziado, mas ao mesmo tempo a borbulhar de ideias e inspiração.

O facto de ter estado sol (uma sorte!), de não haver praticamente carros no centro de Amsterdão (que sossego!), de só ter pegado no telemóvel para tirar fotografias e telefonar para casa, tudo confluiu de para essa sensação de “leveza cerebral” que senti quando aterrei em Bilbao (e que, infelizmente, já se desvaneceu). Mas, verdadeiramente, aquilo que realmente me marcou foi ter podido ver tantos interiores históricos de um só fôlego: tanto nos quadros de Vermeer, que pintou a domesticidade com uma luminosidade e uma sensibilidade fora de série, bem como noutros quadros do Rijksmuseum, e principalmente nas casas-museus que visitámos.

“A journey around historic interiors”: this could have been the subtitle to the two-and-a-half days I spent in Amsterdam with my mother last week. The excuse for this trip was to see the current Vermeer exhibition at the Rijksmuseum but it ended up being so much more than just that. The days were both intense and calm, with lots of walking and visual stimulation, and I came home with a curious sensation of a clean, rather empty, brain, while at the same time I felt bursting with ideas and inspiration.

The fact that the sun was shining (how luck were we!), that there are virtually no cars in the city centre (such tranquility!) and that I only picked up my phone to take pictures and call home, all of it contributed to that “brain lightness” I felt when I landed in Bilbao (sadly, that feeling is long gone). But truly, what impressed me the most was the opportunity to see so many historic interiors in one fell swoop: in Vermeer’s paintings, done with extraordinary luminosity and sensitivity, in other paintings at the Rijksmuseum, and especially in the house museums we visited.

Já vos falei aqui no meu entusiasmo por casas-museus e Amsterdão tem um sem-fim de casas deste tipo (este livro é um bom guia). Ficaram muitas por ver, mas aconselho vivamente estas: 

I’ve already told you about my love of house museums and Amsterdam has a large number of them (this book is a good guide). We only managed to see a few of them, I really want to go back for more! Here are my recommendations:

  • Museum Ons’ Lieve Heer op Solder (Museu Nosso Senhor no Sótão): uma casa no canal com uma igreja católica no sótão. Dizer que é extraordinária é pouco. Esta casa ficou congelada no século XVII, nem percebo bem como, visto que se passou tanta coisa nos últimos 400 anos e as casas estão constantemente a mudar de donos e a serem remodeladas. É talvez o sítio com mais ambiente onde já estive na minha vida.
  • Museum Ons’ Lieve Heer op Solder (Our Lord in the Attic): a 17th century canal house with a Catholic church in the attic. It’s outstanding. This house looks like it’s been frozen in time, I can’t really fathom how it’s been kept in its original form throughout the last 400 years, seeing that houses so often change hands and are remodelled. I think it’s the place with the most ambiance I’ve ever been to.

  • Casa-Museu Rembrandt: a casa onde Rembrandt viveu de 1639 a 1658. Esta casa sofreu várias transformações ao longo dos séculos e foi transformada em museu no princípio do séc. XX. Percorrer as diferentes divisões é quase como entrar nos quadros de Pieter de Hooch ou de Vermeer. Muito bonita, mas infelizmente estava cheia de gente…
  • Rembrandt House: where Rembrandt lived and worked from 1639 to 1658. This house went through a lot of transformations over the centuries and it was turned into a museum in the early 1900s. Walking through its rooms feels almost like entering a painting by Pieter de Hooch or Vermeer. Unfortunately it was packed, which rather killed that illusion.

  • Het Grachtenhuis: algumas salas com decoração do século XVIII, um jardim muito giro e uma exposição interactiva muito bem feita sobre a história de Amsterdão e dos seus canais. Vale a pena.
  • Het Grachtenhuis: some rooms decorated in the 18th century style, a lovely garden and a great interactive exhibition about the history and Amsterdam and its canals. Worth the visit.

  • Museu Van Loon: de momento está com uma exposição que não deixa ver os interiores da casa, o que foi uma pena, porque o pouco que vi era realmente bonito. Conseguimos ver a cozinha (que adorei), o jardim e as antigas cocheiras. Tenho mesmo de lá voltar na próxima vez que estiver em Amsterdão.
  • Museu Van Loon: there’s an exhibition on at the moment that prevented us from seeing the usual house displays (it’s all covered up), which is a real shame, because the little I could see was remarkably beautiful. We did manage to see the kitchen (which I absolutely loved), the garden and the coach house. I really want to go back the next time I’m in Amsterdam.

Esta abundância de interiores e de imagens de interiores fez-me pensar que há aqui muitas ideias que podem ser transferidas e adaptadas às nossas próprias casas. Ora vejam:

[Leia o resto AQUI.]

This abundance of interiors and of images of interiors makes me think that there’s a lot here that can be transferred and adapted to our own homes. Here are a few suggestions:

[Read the rest HERE.]

Doce de Abóbora e Nozes :: Pumpkin and Walnut Jam

Na manhã em que íamos fazer a viagem Lisboa – La Rioja, e precisamente no momento em que o Tiago e eu estávamos a carregar o carro com as nossas malas, presentes de Natal e inúmeros objectos que desencanto sempre que vamos de férias a Portugal, a minha amiga Tânia apareceu para dar-nos um abraço de despedida. Trazia com ela uma abóbora da fazenda do seu avô para fazermos sopas com sabor a quinta, e que eu imediatamente imaginei transformada no meu doce de eleição: abóbora e nozes.

A abóbora passou um mês no parapeito da cozinha e, quando chegou a altura de a cortar, pus de lado um quilo e lancei-me a fazer o doce, enquanto o Rodrigo retirava, lavava e punha a secar as sementes, que planeamos semear quando chegar a Primavera.

Não sei se esta será a variedade de abóbora mais indicada para fazer doce, mas digo-vos que valeu a pena experimentar. O resultado foi um doce cheio de sabor, que pode ser comigo com requeijão ou queijo fresco (a maneira tradicional em Portugal) ou até só à colher. Fi-lo assim:

Doce de Abóbora e Nozes

Ingredientes

1 kg de abóbora, descascada e cortada aos bocados

3 ou 4 paus de canela

3 ou 4 tiras de casca de limão

750 g de açúcar branco

200 g de nozes descascadas e partidas aos bocados

Frascos de vidro esterilizados (5 ou 6 frascos de 250 ml)

Método

Colocar numa panela a abóbora, os paus de canela e as cascas de limão. Juntar um fundo de água e deixar ao lume até que a abóbora esteja cozida. Retirar a canela e o limão e reduzir a abóbora a puré.

Juntar o açúcar e, em lume médio, ir mexendo até que se derreta por completo. Em seguida, aumentar o lume e deixar o doce obter o ponto, sem deixar de mexer (estará no ponto quando a colher começar a abrir estrada no fundo da panela).

Juntar as nozes, dar uma mexidela final e apagar o lume. Agora só falta enfrascar, tapar os frascos e fervê-los durante 10 minutos a seguir (sei que muita gente passa por cima deste passo, optando por simplesmente virar os frascos ao contrário até que estejam frios, mas eu não arrisco). Deixar os frascos arrefecer em cima de um pano sem lhes mexer.

Comer com requeijão ou queijo fresco!

Block Printed Tablecloth and Napkins

[scroll down for English]

Vou-vos contar a história deste presente de anos que fiz para a Rocío. Só conheço a Rocío há 11 meses mas ela conhece-me para aí há 11 anos. A verdade é que ela lê o meu blog e tem seguido o meu percurso quase desde o princípio. Quando se apercebeu de que nos tínhamos mudado para Logroño (a cidade onde vive) escreveu-me e rapidamente nos tornamos amigas.

Graças à Rocío, a nossa vida aqui em La Rioja tem sido muito mais fácil e muito mais divertida. Tem-nos ajudado imenso, convidou-nos para casa ela, apresentou-nos à sua família e aos seus amigos… e ainda há o pequeno pormenor de também ser doida por costura, decoração e reutilização! Só de pensar que provavelmente nunca nos teríamos conhecido num mundo pré-internet…

Quando me apercebi de que a Rocío estava prestes a fazer anos (ainda por cima um número importante!), pensei logo que me teria de empenhar em fazer-lhe um presente especial. Fui então desencantar os meus carimbos indianos e as minhas tintas para têxteis e acabei por lhe fazer um conjunto de toalha de mesa e guardanapos estampados à m.

A idea inicial era estampar seis guardanapos. Peguei num bocado de linho azul e cortei quadrados de 45 x 45 cm, que depois estampei com dois carimbos diferentes e tinta têxtil branca. Não saíram mal e, entusiasmada, lancei-me a fazer uma toalha a condizer. Tenho um pano de lençol antigo que sempre me pareceu demasiado grosso para fazer lençóis mas que é ideal para ser transformado em cortinas ou toalhas. Comecei por cortar um bocado desse pano à medida da mesa dela (que eu já tinha medido em palmos — às escondidas! — uma vez que fomos almoçar lá a casa). Depois de lavado, seco e engomado, chegou a altura de o estampar. Comecei por fazer uma barra a toda a volta com dois blocos diferentes (um pequeno horizontal e um em forma de cornucópia) e depois preenchi o centro com uma flor, que estampei de maneira desencontrada. Antes de estampar o centro calculei mais ou menos quantas flores cabiam na horizontal e na vertical e depois ajustei o espaçamento… a verdade é que isto foi tudo feito um bocado a olho, sem grandes planos, e devo dizer que esta abordagem leve tornou este projecto bastante rápido e divertido.

Fiquei mesmo contente por me ter lançado nesta experiência e espero ter-vos entusiasmado a experimentar algo neste género um dia destes. Podem encontrar estes carimbos à venda online (experimentem googlar “indian wooden printing blocks”) e ver alguns vídeos de impressores indianos no Youtube. Ou podem experimentar fazer os vossos próprios carimbos ou até usar uma simples batata como eu fiz aqui.

***

Let me tell you about Rocío. I’ve only known her for 11 months but she’s known me for about 11 years. You see, she’s been reading my blog and following my journey almost from the start. When she found out that we had just moved to Logroño (her native town) she got in touch with me and we quickly became friends.

Rocío has made our lives here in La Rioja much easier and more enjoyable. She’s helped us, given us tips, welcomed us into her home, introduced us to friends and family… and did I mention that she also sews and is really into interiors and repurposing? To think that we’d probably never have met in a pre-internet world!…

So when I realised that Rocío had a milestone birthday coming up, I knew I had to make her something a bit special. I brought out my Indian printing blocks and my textile paints and made her a block printed set of tablecloth and napkins.

I started out by making the napkins. I cut six 45 cm squares of blue linen and stamped them with two different printing blocks and white textile screen printing paint. They turned out OK so I decided I’d  go ahead make her a matching tablecloth too. I picked up a length of vintage cotton sheeting and cut it to size (I had sneakingly measured her table with the palm of my hand when she had us over for lunch one day). After the cloth had been washed, dried and ironed, I used a combination of two different blocks (a small horizontal one and a paisley-shaped one) to print a border all around its edge. I filled in the centre with a flower block in a makeshift half-drop repeat. I did do a rough calculation of how many blocks I was going to be able to fit vertically and horizontally before I began printing but I must say this was mostly eyeballed. Again, I used my hand as a measuring tool and just went for it. I’m usually an overthinker but because this project had a tight time frame, it ended up being extremely fast and quite liberating.

Anyway, this was a lot of fun to make and to give away and I hope you’ll consider having a go at block printing yourself. You can find printing blocks for sale online (just google “indian wooden printing blocks”) and watch a few videos of printing masters in India on Youtube. Or you could carve your own block or just use a potato like I did here.

Anzac Biscuits

[scroll down for English]

Não é só em Portugal que o 25 de Abril é um dia festivo. Na NZ e na Austrália celebra-se o Anzac Day, em memória das tropas australianas e neozelandesas que combateram na Primeira Guerra Mundial (ANZAC é a sigla para Australian and New Zealand Army Corps). Nos dois países há cerimónias ao nascer do dia para lembrar não só os soldados que morreram no fatídico desembarque em Gallipoli a 25 de Abril de 1915, mas também todos aqueles que perderam as suas vidas em conflitos armados.

Nesta altura do ano fazem-se umas bolachas chamadas Anzac Biscuits, cuja origem é controversa mas que estão fortemente ligadas a estas comemorações (podem ler mais sobre a história destas bolachas aqui). São óptimas e muito simples de fazer. Aqui fica uma receita que me foi dada pela Andrea, uma senhora que trabalhava com o Tiago e que era famosa pelos seus cozinhados:

Anzac Biscuits

Ingredientes:

1 chávena* de flocos de aveia

1 chávena de farinha de trigo

2/3 chávena de açúcar mascavado

2/3 chávena de coco seco ralado

125g de manteiga cortada em cubos

2 colheres de sopa de golden syrup

1/2 colher de chá de bicarbonato de sódio

(*esta “chávena” não é uma xícara propriamente dita, mas sim uma medida standard — cup em inglês. Eu uso um conjunto de metal que inclui 1 cup, 1/2 cup, 1/3 cup, 1/4 cup, 1 tablespoon e 1 teaspoon. Estes conjuntos são úteis para fazer receitas de países anglo-saxónicos.)

Método:

1. Ligar o forno a 160C. Cobrir três tabuleiros de forno com papel vegetal.

2. Numa taça grande, misturar os flocos de aveia, a farinha, o açúcar e o coco.

3. Colocar a manteiga, o golden syrup e duas colheres de sopa de água fria num pequeno tacho em lume médio. Ir mexendo até que a manteiga derreta por completo. Acrescentar o bicarbonato de sódio.

4. Incorporar a mistura da manteiga na taça dos ingredientes secos. Mexer bem até que todos os ingredientes estejam bem incorporados numa massa homogénea.

5. Fazer bolinhas de massa. Colocá-las nos tabuleiro de forno, afastadas umas das outras, e achatá-las ligeiramente.

6. Colocar os tabuleiros no forno e deixar as bolachas cozer cerca de 10-12 minutos, até que estejam douradas. Deixá-las arrefecer nos tabuleiros durante 5 minutos e depois transferi-las para uma rede/grelha até que estejam completamente frias.

***

In New Zealand and Australia the 25th of April is a holiday called Anzac Day, in memory of the troops that fought in the First World War (ANZAC stands for Australian and New Zealand Army Corps). In both countries cerimonies are held at dawn in remembrance of those who lost their lives in the deadly landing at Gallipoli on the 25th of April 1915, as well as of everyone who’s ever served and died in any war or conflict.

This time of the year a lot of Anzac Biscuits are baked. Their origin is rather muddled but they’ve always been connected to this particular holiday (you can read more about their history here). They’re delicious and really easy to make. Here’s a recipe that was given to me by Andrea, a former co-worker of Tiago’s and a great cook:

Anzac Biscuits

Ingredients:

1 cup rolled oats

1 cup plain flour

2/3 cup brown sugar

2/3 cup desiccated coconut

125g butter, chopped

2 tablespoons golden syrup

1/2 teaspoon bicarbonate of soda

Method:

1. Preheat oven to 160 degrees Celsius. Line three baking trays with baking paper.

2. Combine oats, flour, sugar and coconut in a large bowl.

3. Place butter, golden syrup and 2 tablespoons of cold water in a saucepan over medium heat. Stir until butter has melted. Stir in bicarbonate of soda.

4. Stir butter mixture into oat mixture until combined.

5. Roll level tablespoons of mixture into balls. Place on trays and flatten slightly.

6. Bake for 10-12 minutes or until golden brown. Stand on trays for 5 minutes. Transfer to wire rack to cool completely.

Goodbyes and Hellos

[scroll down for English]

Adeus casa linda e arejada, que tanto nos esforçámos por tornar ainda mais bonita. Adeus jardim onde plantámos árvores, semeámos inúmeras sementes, brincámos às escondidas e onde o Pedro nasceu. Adeus país dos fetos gigantes, das montanhas sem fim, do vento extremo e da ausência de presunção. Adeus Verão.

Olá país-irmão. Olá vinhas a perder de vista, terra seca, amendoeiras em flor. Olá castelos com mil anos, aldeias encavalitadas, cegonhas, abutres e falcões. Olá céu azul forte, olá neve. Olá Inverno.

É tão difícil recomeçar e é tão bom recomeçar. Altos e baixos, entusiasmo e desespero, alegrias e tristezas, ganhos e cedências. A vida é mesmo isto. O caminho é para a frente, sem medo, que só se vive uma vez e há que abrir os braços às oportunidades que a vida nos oferece. Ninguém disse que iria ser fácil mas acreditamos que é a decisão certa para a nossa família. Obrigada por nos acompanharem neste novo capítulo!

***

Goodbye beautiful, airy house that we worked so hard on. Goodbye garden where we planted trees, sowed many seeds, played hide-and-seek and where Pedro was born. Goodbye land of giant ferns, endless mountains, extreme wind and lack of pretension. Goodbye summer.

Hello sister country. Hello undulating vineyards, dry soil, almond blossom. Hello thousand-year-old castles, sleepy pueblos, storks, vultures and hawks. Hello blue skies, hello snow. Hello winter.

Starting again is both hard and exhilarating. Ups and downs, enthusiasm and despair, joy and sadness, gains and losses. Such is life. Onwards and upwards, not living in fear, for you only live once and opportunities must be welcomed with open arms. No one said it would be easy but we believe this is the right decision for our family. Thank you for coming along in this new chapter of our lives!

Fabric Printing



3/100

[scroll down for English]

O Rodrigo fez cinco anos no fim-de-semana passado. Uma das coisas que me pediu para fazer enquanto o Pedro dormia a sesta foi “pintar tecidos”. Ainda me passou pela cabeça dizer-lhe que não, porque daí a meia-hora seria tempo de acordar o Pedro e lanchar, mas depois pensei que ele fazia anos e que não lhe ia dizer que não. Ainda bem que anuí: esta actividade foi rapidíssima!

Pegámos num resto de lençol branco (aqui é muito fácil comprar lençóis antigos nas lojas de caridade — são pequenos para as camas de hoje em dia, mas perfeitos para reaproveitamentos), escolhemos três cores (tintas acrílicas às quais acrescentei um aditivo têxtil) e três carimbos e ele lançou mãos à obra.

O tecido ficou a secar toda a tarde e, ao serão, passei-lhe com o ferro de engomar de forma a fixar as tintas. Depois transformei-o num simples saco para a roupa suja. Nem imaginam como ele ficou radiante quando lho mostrei na manhã seguinte!

***

Rodrigo turned 5 last weekend. One of the things he asked me to do while Pedro was napping was “to paint fabric”. For a split second I thought of saying no because in just half an hour it would be time to wake up Pedro and have a snack, but then I realised it was his birthday and I couldn’t say no. I’m so glad I agreed: this activity was really quick!

We took a piece of an old cotton sheet (charity shops are great for buying old sheets — they can be too small for modern beds but they’re perfect for upcycling), we picked three colours (acrylic paints with added textile medium) and three stamps and off he went!

I hang the fabric to dry and that evening I used the iron to set the paint, then I turned it into a simple laundry bag. We was so happy when he saw it the next morning!

Pudim Flan :: Portuguese Caramel Flan

[scroll down for English]

Pudim flan é uma daquelas sobremesas que imediatamente me fazem recordar a infância. Digamos que, em conjunto com o bolo de natas, a mousse de chocolate com bocadinhos de amêndoa por cima (numa taça específica) e a torta de laranja, funciona como uma espécie de madalena de Proust para mim. Uma garfada e sinto-me de volta aos intermináveis dias de Verão na companhia da minha querida avó.

Há uns anos a minha mãe passou-me a receita do pudim que ela faz: uma versão mais simplificada do pudim da minha avó, mas igualmente saborosa. Ontem finalmente experimentei a receita e fiquei espantada com duas coisas: 1- é incrivelmente fácil, rápido e infalível; 2- é capaz de ainda ser melhor do que o pudim da minha infância!

Algumas notas:

  • Este pudim é cozido na panela de pressão. Imagino que também possa ser cozido no forno ou até em banho-maria ao lume mas, nesses casos, o tempo de cozedura será mais prolongado.
  • Uso uma forma de pudim tradicional portuguesa com tampa. A minha forma tem 1,5 l de capacidade e é ideal para 6-8 ovos. Pode usar-se uma forma maior ou mais pequena (e adaptar o número de ovos em conformidade) ou até aquelas forminhas individuais para pudins (a minha avó às vezes fazia-nos pudins assim quando éramos pequenos).
  • Esta receita é parecida com a receita de pão-de-ló, no sentido em que funciona com base em proporções (o mesmo peso dos ovos em açúcar, etc). Estas receitas são as minhas preferidas porque são absolutamente infalíveis e podem ser adaptadas sem quaisquer dificuldades. Não interessa se os ovos são grandes ou pequenos, o que importa é o peso total. Eu uso ovos caseiros (compro-os a uma amiga) e são todos de tamanhos diferentes!
  • O pudim deve ser feito de véspera (ou com bastantes horas de antecedência), para que possa ser servido bem fresco.
  • Convém usar um prato fundo para desenformar o pudim. A calda é melhor parte e precisa de espaço! Por coincidência, na semana passada encontrei, numa loja de caridade, um prato inglês igual ao serviço de jantar dos meus trisavós (os avós da minha avó). Claro que tive de usá-lo para servir este pudim… foi uma espécie de homenagem inesperada!

 

Vamos então à receita:

Pudim Flan

para o caramelo:

aproximadamente meia chávena de açúcar (o suficiente para cobrir generosamente o fundo da forma)

um pouco de água

para o pudim:

1 medida de ovos (eu pesei 6 ovos inteiros, ainda com casca)

1 medida de açúcar (o mesmo peso dos ovos)

1,5 medidas de leite gordo (1,5 x o peso dos ovos)

raspa de 1 laranja / raspa de 1 limão / 1 vagem de baunilha (eu usei raspa de laranja)

 

Começar por fazer o caramelo: deitar o açúcar e umas gotas de água para o fundo da forma de pudim e pô-la ao lume. O açúcar vai derreter e depois vai começar a caramelizar. É importante retirar a forma do lume um pouco antes de o caramelo estar no ponto (antes de atingir a cor de caramelo), porque a forma continua quente e o açúcar vai continuar a caramelizar, mesmo depois de retirado do fogão. Espalhar o caramelo pelos lados da forma.

Numa taça, bater os ovos com o açúcar. Não é preciso bater muito tempo, basta que fiquem bem misturados.

Adicionar o leite e a raspa de laranja / raspa de limão /sementes da vagem de baunilha e bater.

Deitar o preparado na forma de pudim e tapá-la (se a forma não tiver tampa, pode usar-se um bocado de papel de prata).

Colocar a forma de pudim dentro da panela de pressão e adicionar água até cerca de 2/3 da altura da forma. Tapar a panela, pô-la ao lume e deixar cozer o pudim durante 10 minutos, a contar a partir do momento em que a panela levanta pressão. Abrir a panela depois de despressurizada e retirar a forma.

Deixar arrefecer o pudim na forma. Para desenformar, passar primeiro com a ponta de uma faca a toda a volta, na parte de cima da forma, para descolar o pudim. Pôr um prato fundo por cima da forma e virá-los ao contrário, e colocar no frigorífico ainda com a forma em cima do pudim, para que o caramelo vá escorrendo. Retirar a forma mesmo antes de servir o pudim.

A caramel flan is one of those desserts that reminds me of my childhood. I’d say that, along with sponge cream cake, chocolate mousse with chopped almonds on top (served in a very specific bowl) and orange roulade, it’s a kind of Proust’s madeleine for me. One bite and I’m immediately transported to long summer days in the company of my darling grandmother.

Some years ago, my mother gave me the recipe of the flan she makes: it’s a simplified version of my granny’s one but equally delicious. Yesterday I finally gave it a try and I must say I was amazed by a couple of things: 1- it’s incredibly easy, quick and foolproof; 2-I’d go so far as to say that it tastes better than the ones from my childhood!

A few notes before I share the recipe with you: 

  • You cook this in the pressure cooker. I imagine you could also bake it in the oven or in a bain-marie on the stovetop, but the cooking time would be much longer in those cases.
  • I use a traditional Portuguese flan tin with a lid. My tin has 1,5 l of capacity and is ideal for 6-8 eggs. You could of course use a smaller or larger tin (and adapt the number of eggs in conformity to the size of the tin) or even those cute little vintage flan tins (my granny would sometimes use those when we were little).
  • This recipe is similar to the recipe for pão-de-ló (Portuguese sponge cake in the way that it’s also based on proportions (the weight of the eggs determines the weight of the other ingredients). I love these recipes because they are both foolproof and highly adaptable. It doesn’t matter whether your eggs are big or small — what matters is their weight in total. I buy my eggs from a friend and, unlike supermarket eggs, they come in all sorts of different sizes, so this recipe works a treat. 
  • You should probably make this flan the day before you eat it because it must be served chilled. Or make it in the morning and serve it at dinner time.
  • It’s best to use a deep dish to serve up the flan. The caramel is the best part and it needs lots of room! By coincidence, in a charity shop last week I found an English plate that matches my great-great-grandparents dinner set (my granny’s grandparents). Of course I had to use it with this flan… by doing so ended up paying an impromptu homage to my grandmother.

 

All right, let’s get to the recipe:

Portuguese Caramel Flan

for the caramel:

roughly half a cup of sugar (enough to generously cover the bottom of your tin)

a little bit of water

for the flan:

1 measure of eggs (I weighed 6 eggs still in their shells)

1 measure of sugar (the same weight as the eggs)

1,5 measures of whole milk (1,5 x the weight of the eggs)

the zest of 1 orange / the zest of 1 lemon / the seeds from 1 vanilla pod (I used orange zest)

 

Start by making the caramel: pour the sugar and a few drops of water into the flan tin and place it directly on the stovetop (the tin I use is actually made of tin… if yours is of a different material, just make the caramel in a pan and then pour it into your flan tin). The sugar will melt and then start to caramelize. You should take the tin out of the heat a little before the caramel is done (before it actually looks like brown caramel) because the tin will still be hot and the sugar will keep on cooking for a bit. Coat the sides of the tin with caramel.

In a bowl, beat the eggs and the sugar. You don’t have to beat them for too long… just enough to fully incorporate everything. 

Add the milk and the orange zest /lemon zest /vanilla seeds and whisk. 

Pour the mixture into the flan tin and put the lid on (or cover it with a piece of kitchen foil). 

Place the tin inside your pressure cooker and add water until you reach 2/3 of the height of the tin. Close the pressure cooker lid, place it on the stovetop and let it cook for 10 minutes at high pressure (only start counting after you’ve hear the loud pressure noise). Open the lid after the cooker has depressurized and take the tin out.

Remove the lid from the tin. Once the flan has cooled down, use the point of a knife to gently unstick it from the tin. Place a deep plate over the tin and turn them upside down. Don’t take the tin out just yet — put the plate in the fridge and let the caramel slowly coat the whole flan. Only take the tin out when you’re ready to serve the flan. 

Pedro

Pedro
1/08/2014
3,320 kg
[escrever para não esquecer]
O Pedro nasceu no jardim da nossa casa na Nova Zelândia.
Estava previsto para 27 de Julho de 2014 e acabou por nascer na madrugada do primeiro dia de Agosto. No jardim, às 6h45 da manhã. Em pleno Inverno.
Fez-se anunciar durante dois dias com contracções irregulares: umas espaçadas, outras muito próximas; umas fortes, outras mais suportáveis. Quando, ao fim de trinta e tal horas disto, nos encontrámos com a parteira no hospital (precisamente 6 horas e 45 minutos antes de o Pedro ter dado entrada no mundo), o veredicto foi desconsolador. “Ainda há muito pela frente. Muitas horas, dias até. Tem de sentir contracções fortíssimas de 4 em 4 minutos pelo menos durante 2 ou 3 horas.” “Mas estou tão cansada. E dói tanto” e larguei num pranto. “Constança, o parto dói muito. Engravidou, esteve grávida e agora vai ter de passar pelo parto. A dor não mata. Custa, mas não mata. Tome estes comprimidos [paracetamol] e vá para casa. Tente dormir.”
E para casa viemos. Nova viagem de 20 minutos de carro. Cama. Sacos de água quente. O Tiago adormeceu imediatamente. E eu tive contracções. Muitas. Fortes. Lembro-me de contar assim “1- vou aguentar. 2- vou aguentar. 3- vou aguentar.” Até chegar ao 20. Não tive forças para marcar o tempo nem o intervalo entre contracções. Acho que ia adormecendo entre elas.
A certa altura houve uma que me fez dar um grito e agarrar-me à cabeceira da cama. Chamei o Tiago e lembro-me de ter pensado “não me posso descontrolar. Se me descontrolo, não aguento.” Mas esta contracção – tal como as que se seguiram – era diferente. Era mais em baixo. Dava vontade de fazer força. De repente saiu qualquer coisa. E eu fiquei assustada e disse “Tiago, às vezes os partos correm muito mal! Telefona à parteira!” Tentei falar com ela mas não consegui. Gritos à filme. Só pensava “não posso fazer força cedo de mais [aquilo que se ouve nos filmes]. Vou soprar velas. Deus queira que o Rodrigo não acorde.”
Contracções. Contracções. Contracções. “Conchinha, ouve-me bem. Vais andar até ao carro.” “NÃO!” “Vais sim. Vem.” A minha mãe entretanto aparece. Calça-me os sapatos. Ajuda o Tiago. Passo a porta de casa. Grito. Apoio-me no capot do carro. Mordo a mão do Tiago. “Ele vai nascer!” “Não vai nada. Vamos. Temos de ir.” “Tiago, ele vai nascer!” Três passos até ao lado do carro. Porta de trás aberta. Tento entrar. “Está a sair! Aqui!” Toco. “Está a sair a cabeça!” A minha mãe espreita. Estou em pé, em cima da gravilha, com as mãos apoiadas no banco de trás do carro.
“Conchinha, já nasceu. O Pedro já nasceu.”
“Telefonem à parteira.”
Os vizinhos do lado aparecem.
“É preciso passar o cordão para a frente”, diz a filha deles, que é condutora de ambulâncias. A minha mãe ajuda-me.
Peguei no Pedro ao colo?
Ambulância. Tiago. Maca. O Pedro ao colo do Tiago. Paramédicos (um deles o mesmo que cá veio quando, grávida de 3 meses, escorreguei e caí no corredor). Dei a mão à paramédica.
Injecção para expulsar a placenta. O Pedro ao colo do Tiago. Muitos solavancos. Gemo.
Chegamos ao hospital. Elevador, sala de partos. “Tussa. Faça força.”
“Good girl, Constança. Good girl.”
Pontos. Intermináveis.
O Pedro mamou. Pesaram-no, mediram-no. Temperatura: 34,6. (Ou será que só mamou depois?)
A parteira foi buscar torradas e um Milo. Entrou, saiu, entrou, saiu. Soube tão bem estar ali com o Tiago, e com o Pedro em cima de mim. Lembrei-me da sala de partos em Burton. E do Rodrigo.
Telefonei à minha mãe. Tomei duche. Fomos para o quarto.
Dormimos duas noites no hospital.
Estamos em casa.
O Pedro tem 4 dias.
xxxx Street
Nova Zelândia
5 de Agosto de 2014
[English version coming soon]

Preparativos para o Bebé :: Getting Ready for Baby

A minha mãe já chegou e o Rodrigo está finalmente de boa saúde (depois de 4 amigdalites e uma virose em menos 3 meses… coitado), o que significa que tenho andado a produzir como se não houvesse amanhã! E, de facto, não faço ideia como será o dia de amanhã, visto que estou prestes a completar as 38 semanas e dizem que os segundos bebés não se atrasam tanto… Eis as minhas tarefas dos últimos tempos:
– forrar a alcofa com fronhas de travesseiro de linho que pertenceram aos meus bisavós;
– fazer lençóis de baixo com elástico;
estes cobertores de flanela (a minha mãe fez quase tudo… eu só pespontei a parte final);
– uma transformação de camisa em body segundo este meu método.
Faltam os cortinados do nosso quarto, para os quais comprei 30 metros de tecido e outros tantos de forro… bebé, aguenta-te aí dentro mais uns tempos!
My mother has arrived and Rodrigo is finally in good health (after 4 tonsillitis and a nasty virus in less than 3 months… poor little man), which means I’ve been sewing like there’s no tomorrow. Well, as a matter of fact I’m not quite sure what tomorrow will bring because I’m almost 38 weeks pregnant and they say second babies usually aren’t born as late as first babies tend to be… Here’s what I’ve been making over the last days:

– a liner for the cot with linen pillowcases that used to belong to my great-grandparents;
– little fitted sheets;
these flannel receiving blankets (actually my mother made most of it… I only topstitched the final part);
– turning a baby shirt into a bodysuit following my own tutorial.

I still have to sew curtains for our bedroom, for which I bought 30 metres of fabric and the same amount of lining… baby, hang on in there for a few more days!
(photos© Constança Cabral)