Pedro

Pedro
1/08/2014
3,320 kg
[escrever para não esquecer]
O Pedro nasceu no jardim da nossa casa na Nova Zelândia.
Estava previsto para 27 de Julho de 2014 e acabou por nascer na madrugada do primeiro dia de Agosto. No jardim, às 6h45 da manhã. Em pleno Inverno.
Fez-se anunciar durante dois dias com contracções irregulares: umas espaçadas, outras muito próximas; umas fortes, outras mais suportáveis. Quando, ao fim de trinta e tal horas disto, nos encontrámos com a parteira no hospital (precisamente 6 horas e 45 minutos antes de o Pedro ter dado entrada no mundo), o veredicto foi desconsolador. “Ainda há muito pela frente. Muitas horas, dias até. Tem de sentir contracções fortíssimas de 4 em 4 minutos pelo menos durante 2 ou 3 horas.” “Mas estou tão cansada. E dói tanto” e larguei num pranto. “Constança, o parto dói muito. Engravidou, esteve grávida e agora vai ter de passar pelo parto. A dor não mata. Custa, mas não mata. Tome estes comprimidos [paracetamol] e vá para casa. Tente dormir.”
E para casa viemos. Nova viagem de 20 minutos de carro. Cama. Sacos de água quente. O Tiago adormeceu imediatamente. E eu tive contracções. Muitas. Fortes. Lembro-me de contar assim “1- vou aguentar. 2- vou aguentar. 3- vou aguentar.” Até chegar ao 20. Não tive forças para marcar o tempo nem o intervalo entre contracções. Acho que ia adormecendo entre elas.
A certa altura houve uma que me fez dar um grito e agarrar-me à cabeceira da cama. Chamei o Tiago e lembro-me de ter pensado “não me posso descontrolar. Se me descontrolo, não aguento.” Mas esta contracção – tal como as que se seguiram – era diferente. Era mais em baixo. Dava vontade de fazer força. De repente saiu qualquer coisa. E eu fiquei assustada e disse “Tiago, às vezes os partos correm muito mal! Telefona à parteira!” Tentei falar com ela mas não consegui. Gritos à filme. Só pensava “não posso fazer força cedo de mais [aquilo que se ouve nos filmes]. Vou soprar velas. Deus queira que o Rodrigo não acorde.”
Contracções. Contracções. Contracções. “Conchinha, ouve-me bem. Vais andar até ao carro.” “NÃO!” “Vais sim. Vem.” A minha mãe entretanto aparece. Calça-me os sapatos. Ajuda o Tiago. Passo a porta de casa. Grito. Apoio-me no capot do carro. Mordo a mão do Tiago. “Ele vai nascer!” “Não vai nada. Vamos. Temos de ir.” “Tiago, ele vai nascer!” Três passos até ao lado do carro. Porta de trás aberta. Tento entrar. “Está a sair! Aqui!” Toco. “Está a sair a cabeça!” A minha mãe espreita. Estou em pé, em cima da gravilha, com as mãos apoiadas no banco de trás do carro.
“Conchinha, já nasceu. O Pedro já nasceu.”
“Telefonem à parteira.”
Os vizinhos do lado aparecem.
“É preciso passar o cordão para a frente”, diz a filha deles, que é condutora de ambulâncias. A minha mãe ajuda-me.
Peguei no Pedro ao colo?
Ambulância. Tiago. Maca. O Pedro ao colo do Tiago. Paramédicos (um deles o mesmo que cá veio quando, grávida de 3 meses, escorreguei e caí no corredor). Dei a mão à paramédica.
Injecção para expulsar a placenta. O Pedro ao colo do Tiago. Muitos solavancos. Gemo.
Chegamos ao hospital. Elevador, sala de partos. “Tussa. Faça força.”
“Good girl, Constança. Good girl.”
Pontos. Intermináveis.
O Pedro mamou. Pesaram-no, mediram-no. Temperatura: 34,6. (Ou será que só mamou depois?)
A parteira foi buscar torradas e um Milo. Entrou, saiu, entrou, saiu. Soube tão bem estar ali com o Tiago, e com o Pedro em cima de mim. Lembrei-me da sala de partos em Burton. E do Rodrigo.
Telefonei à minha mãe. Tomei duche. Fomos para o quarto.
Dormimos duas noites no hospital.
Estamos em casa.
O Pedro tem 4 dias.
xxxx Street
Nova Zelândia
5 de Agosto de 2014
[English version coming soon]

155 thoughts on “Pedro

  1. Cláudia says:
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    Cara Constança,
    Mais do mesmo: os meus parabéns pela Coragem que teve! Fui mãe de um pequeno matulão em maio e depois de tudo ter passado, pensei imenso como seria “noutros tempos” – aquilo que acabou por lhe acontecer!
    Felicidades para toda a família e continue a inspirar-nos com os belíssimos trabalhos que faz! (Não pude deixar de sorrir ao reparar nos links sugeridos a seguir ao post do nascimento no jardim, se gostou disto também gostará de… “tomates-de-jardim-garden-tomatoes”!)
    Um beijinho, Cláudia

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  2. Maria Ana Borges Sousa says:
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    Parabens Constança!!! Que aventura! Emociono-me sempre que oiço e leio… Parece daquelas histórias que só há nos filmes…. E onde há uma heroína… Tu és uma heroína e o Tiago um heroí !! Grd bjnho

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  3. Anonymous says:
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    PARABÉNS!….que bom que nasceu bem e sinto pelo seu sofrimento, mas com certeza, será uma história que será passada de geração a geração. fantástica…Marta Baratella

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  4. Anonymous says:
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    minha querida Constança, só te posso dizer que és uma força da natureza!!! o mais caricato e que e o segundo Pedro que conheço que nasce nas mesmas condições, estes “Pedros” têm que se lhes diga. Tudo de bom para vocês. Beijinhos.

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  5. Lucia Silva says:
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    Muitos parabéns Constânça! Não pude deixar de cair uma lágrima e recordar como foi com a Victória… ela não nasceu no carro porque eu fazia uma força enorme para a segurar (e ao mesmo tempo gritava e dizia que se abrisse as pernas ela nascia) sentia- perfeitamente a cabeça dela a sair. O meu marido apressou-se mas nasceu no elevado, enquanto as enfermeiras que me levavam na maca gritavam “por amor de Deus não faça força!!… já era tarde 🙂 nasceu absolutamente sozinha, só eu e ela. Um laço de amor inexplicável.

    Mais uma vez parabéns e desejo-vos as maiores felicidades aos quatro.

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  6. alice c says:
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    Congratulations to you all and welcome to baby Pedro. I don't speak Portuguese and I get the impression that things did not go smoothly – take care, let everyone look after you.

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  7. Anonymous says:
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    Mãe bem! Filho bem! Família feliz e aliviada!
    Amigos entusiasmadíssimos!
    Vizinhança digna de uma aldeia portuguesa e um jardim, que nunca mais será o mesmo, abençoado pela milagre do nascimento de um novo ser humano.
    Memórias de um acontecimento que passarão de geração em geração, não apenas nos círculos de familiares e amigos, mas também nos círculos dos neozelandeses participantes e nos círculos de todos nós que seguimos o Saídos da Concha.
    E, é claro que a blogoesfera ganhou uma heroína: a SUPER CONCHA.
    Muito descanso, paz, miminhos e laroquices para todos.
    Rosália

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  8. Olga says:
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    Caramba!!! Que relato. Mas o importante é que estão os dois bens e estão já todos em família no aconchego da casa.

    Felicidades para todos. Tudo de bom!! 🙂

    Olga

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  9. Anonymous says:
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    Apesar de ser leitora assídua deste blog nunca comentei. Contudo , hoje não posso deixar de expressar os meus votos de felicidades. Muitos parabéns a toda a família . O Pedro é lindo , tal como o mano.

    Alexandra

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  10. Manuela Governo says:
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    PARABÉNS!
    A Constança é uma MULHER de garra, de coragem.
    O Pedro é lindo como o mano Rodrigo.
    Rápido restabelecimento é o que lhe desejo e muitas felicidades para todos.
    Não a conheço pessoalmente, mas admiro-a imenso (não sei se é por ter uma filha da sua idade!).
    Um beijinho e tem muito para contar, um dia aos seus netos!
    FELICIDADES

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  11. Raquel says:
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    Muitos parabéns Constança! 🙂 O Pedro é lindo e um rapagão valente! E a Constança… Meu Deus, fiquei arrepiada com a descrição! Imaginava que tivesse sido em casa, pela pista que deu, mas nunca poderia ter imaginado tamanha aflição! Portou-se como uma guerreira! 🙂 As mulheres são seres incríveis, não são? 🙂
    Mais uma vez, muitos parabéns e toca a curtir a vinda de um novo ser! 🙂 yeaaahhhh
    Beijinhos

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  12. Anonymous says:
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    PARABÉNS Constança!! Que maravilha, fique angustiada com o início, mas depois fiquei aliviada por saber que estavam todos bem.
    Mil beijos para todos vós.
    Maria Dias

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  13. Anonymous says:
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    Constança!!!

    Que nascimento atribulado, o do Pedro!!!! Que lindo! e que história linda vais poder contar aos teus filhos, daqui a uns anos e aos teus netos!!! Que coisa Fantástica!! E que felicidade estar tudo bem!!!

    Desejo-vos uma vida longa, plena de felicidade!!!

    Sandra Serra

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  14. filomena says:
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    Que bébé tão lindo!! Parabéns por tudo. Recorda-me a minha história.
    Foi assim que eu nasci, há cerca de meio século, em Angola. A diferença é que o carro já ia a caminho e eu nasci na rua. Felizmente estão todos bem.
    As maiores felicidades!! Bjns

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  15. Adriana Milagres says:
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    Constança chorei de tanta alegria ao ver as fotos do Pedro para mim foi igual a nascer um sobrinho , fiquei tão feliz e grata á Deus por enviar outro filho para vc saudável bonito e cheio de vida ,só posso te dizer que amei muito ler e ver as fotos e te agradeço por compartilhar esse momento todo especial ,desejo muita saúde e alegria par vc e sua família e te digo que sempre oro pedindo bênçãos para vcs bjs e fiquem com Deus.

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  16. Valéria Milfont says:
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    Querida Constança, sigo seu blog há 6 anos, semanalmente. Nunca te escrevi. Desejo um mundo de felicidades aos quatro. Parabéns por ter sido tão guerreira. Beijo no coração. Valéria (Ribeirão Preto – Brasil)

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  17. alexandra says:
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    eu nasci mais ou menos assim, assistida à correr pela parteira velhota de uma aldeia. foi uma experiencia terrivel para a minha mãe em termos fisicos – os rasgos e afins – mas para mim é uma história que adoro ouvir contar. Mas era Verão! 🙂

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