Things I’m Not Afraid to Tell You

(ramo de ervas daninhas :: weed bouquet)

Não sou grande amiga de controvérsia no meu blog mas acho que chegou a altura de esclarecer uma questão que me tem ocupado os pensamentos nos últimos tempos. Tem havido muita conversa sobre honestidade e autenticidade online. Agora até há um desafio na blogosfera, intitulado “Things I’m Afraid to Tell You”, que apela a uma maior transparência, incitando os bloggers a partilharem as suas dificuldades e os seus “podres”. Há muita gente que diz que esta avalanche de blogs focados exclusivamente em coisas positivas e bonitas (sejam elas móveis, bolos ou crianças) é desonesta, por um lado, porque só mostra uma parte da vida e não o todo, e contraproducente, por outro, porque em vez de inspirar, dá azo a sentimentos de inveja e inadequação. No fundo, defende-se que devemos todos ser “livros abertos” e que não nos podemos limitar a partilhar as coisas boas das nossas vidas, porque isso pode ser mal interpretado por quem nos lê.

Pois permitam-me discordar inteiramente com isto. Se o objecto de um determinado blog é a decoração de interiores, e se esse blog mostra todas as semanas casas bem decoradas, por que razão tem o autor do blog de passar a dizer-nos que acabou de discutir com a mãe, que o filho está doente ou que deixou queimar o almoço? Ou, pior ainda, que mostra casas giras mas que não tem dinheiro para comprar o sofá x ou o candeeiro y?
Vejamos o meu caso. Comecei a escrever este blog para ir documentando as coisas que fazia e para me auto-motivar a fazer mais e melhor. Hoje em dia, escrevo-o não só para mim mas também para vocês, com quem partilho o melhor dos meus dias e a quem tento mostrar que é possível ter uma vida em cheio sem ter de estar permanentemente a consumir. Acredito que as nossas casas são sítios fundamentais à nossa felicidade e que, por essa razão, devemos esforçar-nos por torná-las o mais agradáveis possível. Acho que viver ao ritmo das estações do ano tem muito mais graça e torna a vida bem mais urgente e especial. Mas já fui comparada à Anita e muita gente me escreve dizendo que tenho uma vida perfeita porque faço arranjos de flores e bolos. Não será essa uma visão algo limitada? Toda a gente tem acesso às flores que crescem à beira da estrada, bem como a ovos, açúcar e farinha. Eu apenas escolho fazer algo com isso, e tento sempre tornar as coisas que faço o mais apelativas possível. E quando mostro um recanto de minha casa, é óbvio que limpei o pó e arrumei a confusão antes de tirar a fotografia! Mas isso não torna aquilo que mostro uma mentira — bem pelo contrário: partilhar estas coisas convosco faz de mim uma pessoa melhor, mais arrumada, mais rigorosa, mais briosa. O mesmo vale para a imagem de um bebé sorridente e bem vestido… essa imagem não significa que ele nunca chora ou que nunca tem fraldas sujas.
O que vos interessa saber que tive grandes dificuldades em dar de mamar? Ou que o meu primeiro Inverno em Inglaterra foi bastante difícil? Ou que as minhas amigas têm roupa mais gira do que eu? Se eu choramingasse, o meu blog seria mais interessante? Quer-me cá parecer que seria uma grande seca…
Enfim, tudo isto para dizer que não me consigo rever nesta onda de sinceridade forçada que tem assolado a internet nos últimos tempos. Online somos as mesmas pessoas que somos offline. Ninguém vai partilhar com colegas ou meros conhecidos as suas mágoas. Todos nós temos a nossa persona pública, e quase todos nós preferimos reservar as nossas dificuldades para os íntimos. Isto não faz de nós mentirosos ou desonestos. Então, se esse comportamento é aceitável em sociedade, por que razão será forçoso que na internet tenhamos de ser tão mais abertos e vulneráveis?
I’m not a fan of controversy on my blog but I feel the time has come for me to address an issue that has been on my mind lately. There’s been much talk recently about being more honest and authentic online.   There’s even a new blogger challenge called “Things I’m Afraid to Tell You”, which urges bloggers to be more transparent, advising us to share our difficulties and faults with our readers. Many people argue that this huge number of blogs focussing exclusively on positive and pretty things (say furniture, cakes or children) are dishonest, on the one hand, because they only show a part of life and not the whole of it; and counterproductive, on the other hand, because instead of inspiring, they lead to feelings of envy and inadequacy. In a nutshell, some people advocate that we must all be “open books” and that we must stop sharing only the good bits, since that can be misinterpreted by our readers.


Well, allow me to disagree. If the subject of a certain blog is interior decoration and if every week that blog shows appealing homes, why must the blog author start telling us that she just had a fight with her mother, that her child is ill or that she has inadvertently burnt her lunch? Or even worse, that she shows nice homes but she can’t afford this particular sofa or that particular lamp?


Let’s look at my case. I started writing this blog to document the things I was making and as motivation to make more and better things. Nowadays I write it not only for me but also for you, whom I try to show that it’s possible to have a very rich life without needing to keep consuming all the time. I believe that our homes are vital to our happiness and that, for that reason, we should try to make them as agreeable as we possibly can. I also think that living in tune with the seasons makes life much more urgent and special. But I’ve once been compared to Martine and some people write to me saying that I’ve got a perfect life because I arrange flowers and bake cakes. Isn’t that a rather limited vision of my life? Everyone has access to the flowers that grow on roadside verges, as well as to eggs, sugar and flour. I just happen to choose to make something with it and I always try to present the things I make in the most appealing way I possibly can. And when I show you a corner of my home, it’s obvious that I clean up and tidy before taking the photos! But that doesn’t mean that what I show to you is a lie — on the contrary, sharing these things with you makes me want to be a better person: tidier, more resourceful, more generous. The same goes for a picture of a smiley, well-dressed baby… that picture doesn’t mean that he never cries or that he never has dirty nappies.


Why should you I tell you that I struggled with breast-feeding? Or that my first winter in England was really difficult? Or that my friends have nicer clothes than me? If I were to whine, would my blog be more interesting? I reckon with would be very boring indeed…


All I really want to say is that I’m not comfortable with this whole wave of forced sincerity that’s going on right now on blogs. Online or offline, we tend to behave the same way. I mean, people don’t show themselves 100% to those they are not intimate with: no-one is going to share their sorrows with  colleagues or mere acquaintances. We’ve all got our public faces and almost every one of us chooses to only share our struggles with our special people. That doesn’t make us dishonest, nor liars. So if that is  the accepted behaviour in society, why in the world should we be so much more open and vulnerable online?


(photo: Constança Cabral)

175 thoughts on “Things I’m Not Afraid to Tell You

  1. Nina Morelli says:
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    Eu concordo com voce, Concha. Aliás, o objetivo dos blogs é mostrar que somos pessoas normais….. e também que é possível a gente se virar e fazer a coisa dar certo na nossa vida. Todos nós temos “bastidores” e nem todos queremos mostrá-los, isso não significa que somos mais ou menos transparente….apenas somos o que somos.
    O que importa é que sirvamos de exemplo para outros terem uma vida melhor e que isso é possível. E isso tu fazes muito bem, Concha. Continue sendo verdadeira, isso é o que faz a diferença.
    Beijo,
    Nina.

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  2. Anonymous says:
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    Obrigada por este post, tão simples e tão verdadeiro. Choramingar e falar de desgraças não nos leva a lado nenhum.Se não formos nós próprios a tentar ter uma vida colorida, vamos esperar que outros o façam por nós?!

    Bjs
    Grace

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  3. Filipa Carneiro says:
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    Eu não teria dito melhor! Concordo inteiramente com a Concha…e , senão, que dizer dos nossos albuns de familia? Somos todos desonestos por guardar com tanto carinho fotos de bébés bem vestidos e todos a sorrir?

    Vamos continuar com as fotos bonitas, flores coloridas e bébés sorridentes!

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  4. Marta Mourão says:
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    Para mim, o objectivo desse movimento é, na verdade, o de cuscar outras vidas.
    Não, as pessoas não querem ver a vida real, não se querem sentir próximas de que escreve um blog.
    As pessoas querem simplesmente conhecer os pormenores, a vida alheia. As coisas menos boas são sempre as que suscitam maior curiosidade.
    Concordo em absoluto contigo e acho o teu projecto o máximo.
    Não páres! 🙂

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  5. Vee says:
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    Eu acho que alguem que gosta de ler a desgraça alheia é alguem muito mal resolvido. E essa de ter de falar sobre as coisas menos boas da vida para dar credibilidade a um blogue (temático) nem sequer faz sentido, então é preciso dizer às pessoas que nenhuma vida é perfeita? Really?

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  6. Adriana Arrigada says:
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    Olá Constança,
    Concordo inteiramente com as tuas palavras.
    Não mostrar os “podres” não quer dizer que não sejamos honestos.
    É óbvio que quando tiro uma foto de uma peça para colocar no meu blog, vou querer mostrar o melhor plano!
    Querer mostrar o melhor de mim própria não faz de mim um “livro fechado”.
    Com toda esta avalanche de opinião apetece criar o movimento “EU SOU EU PRÓPRIA E ESCOLHO O QUE PUBLICO NO MEU BLOG”.
    Pegar em coisas negativas e transformá-las em coisas positivas é Real Life!

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  7. sara (sushi lover) says:
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    Bom, não li todos os 160 comentários acima mas parece-me que vou ser a única a discordar um pouco.
    Enfim, discordar não vou porque acho que cada blog é do seu autor e cada um sabe o que partilha ou não e o que quer dizer ou não.
    Mas em relação ao “movimento things i'm afraid to tell you” achei-o muito refrescante, uma lufada de ar puro para mostrar um lado mais humano por detrás deste blogs tão profissionais.
    Quando comecei a ler blogs e a escrever tb os blogs eram quase todos pessoais, toda a gente usava nicks e ser anónimo e do coração era regra. Entretanto as coisas profissionalizaram-se e muitos blogs hoje são um trabalho, daí essa corrente tudo é lindo e maravilhoso, ninguém quer ler sobre desgraças, não é?
    Tornam-se no entanto um bocado artificiais, têm “público”, “categorias”, colunas especiais para cada dia e por vezes não se distinguem de uma revista que se compre.
    Nada contra, leio muitos blogs assim, mas o que sempre me fez gostar mais de um blog ou outro é poder identificar com esse blogger. Mostrar que é humano, que também tem dias maus e que se esforça não me parece “ser uma seca” mas antes cria empatia porque todos temos dias bons e maus.
    Não acho que seja responsabilidade do blogger se os seus leitores têm inveja do que seja, cada um que se manque, mas partilhar sentimentos menos positivos, opiniões e críticas sem medos e mostrar uma realidade mais humana eu gosto e faz-me admirar o autor que leio.
    Por exemplo, gostei muito de ler este post e saber a tua opinião sobre este tema. Gosto muito de seguir o teu blog, apesar de não costurar nem fazer arranjos florais e gosto muito do positivismo que transmites. E o blog é teu e cada um partilha o que quer.
    E calo-me que isto já vai longo. Beijinhos!

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  8. Teresa says:
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    Concordo em absoluto! Penso que toda a gente gosta de dar e mostrar o melhor de si. Ler e ver um Blog criativo e reconfortante como este, é, para mim, motivo de inspiração e recreio. Os problemas dos outros? Não obgª! Continua assim. Fica bem e beijinhos

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  9. anianocas says:
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    Constança, concordo com tudo o que disse! Quando comecei a ver o seu blog, ainda estava em Lisboa, o que mais me atraiu, foi a paz que o mesmo me transmite, a parte positiva das coisas, o sorriso que me vem à boca ao ver as fotografias, enfim, como muitos já disseram anteriormente, a inspiração! Não quer dizer que faça alguma das coisas que a Constança faz (sou péssima costureira e cozinheira…) mas inspira-me para outras que gosto de fazer, e isso é o mais importante! Um beijinho para si e para os seus dois “homens”, especialmente para o mais pequeno!
    Ana

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  10. Maria says:
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    Olá Concha,
    Sigo este blogue já há algum tempo, descobri-o, acho, na revista Ideias Casa Cláudia há uns anos. E continuo a vir porque gosto das coisas bonitas que fazes. E das ideias que partilhas. E, essencialmente, por se perceber que és feliz com a vida que tens. Partilhas em dose certa, sem revelares a tua vida em demasia. O teu blogue é muito equilibrado nesse sentido e é também por isso que gosto dele! Por isso, Concha, continua a fazer como tens feito até agora. Eu adoro e sinto-me sempre inspirada quando cá venho!
    Maria

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  11. chelsea says:
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    Thank you! Thank you!! I completely agree. If people want to share that's great, but I don't feel that I owe anyone personal details of my life and I don't think people should feel pressured to share things they don't want to.

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  12. rosinha_dos_limoes says:
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    Só para dizer que concordo com tudo tudo!!!
    O teu blog inspira-me, faz-me pensar, mostra-me coisas bonitas, só me faz bem, mesmo que eu não viva no countryside inglês 😉 …
    Cada um deve mostrar o que quer, o que se sente à vontade para mostrar.
    Se há quem não veja que há mais para lá daquilo que observamos quando lemos um texto … é porque anda a precisar de trocar de lentes 😉 E não é assim tão diferente da vida “real” há quem não veja que há mais para lá do que vemos à nossa frente.
    Continua assim … verdadeira a ti mesma.

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  13. Arte Crochê Cristina says:
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    Concordo com tudo que você falou, o ser humano tem o sentimento de curiosidade e também não aceitam quando o outro está bem, está feliz…enfim….sempre estou vendo as suas noticias, tem mais ou menos uns 2 anos,moro no Brasil, meu sogro é português!!! Amo as coisas que você posta!!!Boa sorte em tudo…Abraços….Cristina Cristovão

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  14. Anonymous says:
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    Olá Constança,
    Concordo com tudo o que escreveu.
    Que ninguém é perfeito já toda a gente sabe, todos temos dias bons e maus, este ou aquele problema…
    Mas qual a vantagem de escrever sobre coisas tristes?
    Temos de ter é uma actitude POSITIVA, Bons pensamentos, atraem optimismo e vontade de fazer mais e melhor. E acaba por ser uma coisa contagiosa.
    Por isso o que vou desejar para si e, todos que a lêem é TUDO DE BOM, agora e sempre.
    Bem Haja por fazer do «Saídos da Concha» um blog POSITIVO e OPTIISTA.
    muito Obrigada.
    Bjs,
    Teresa C.

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  15. Poshyarns says:
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    I am firmly on your side in this debate. Each to their own of course but I have no desire to share my dusty corners with anyone, I see them daily, I come to blogland for respite.

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  16. madilla says:
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    Spot on!
    That's why I love to read blogs, to be inspired, to be uplifted.
    And I guess no one is so stupid to think that what someone publishes is the whole picture, their whole life.

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  17. La vita è bella says:
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    Cara Constança

    Concordo inteiramente consigo! Já vemos tantas coisas más todos os dias nas nossas vidas, somos invadidos com noticias horrendas e desmotivadoras! Ao menos que, nos blogs que seguimos e pessoas que admirados, haja um pouco de felicidade e harmonia para equilibrar as coisas!

    Parabéns
    Carla Ferreira

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  18. Ana Lopes says:
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    Querida Constança, eu sou das que tem acesso às flores, aos ovos, ao açucar, à farinha e a tudo o que pela sua singeleza me consegue inspirar e produzir alento para superar as sempre certas contrariedades da vida.
    Por isso não só concordo inteiramente com as suas palavras, como lhe agradeço imenso os excelentes momentos de prazer que tenho tido desde que consulto o seu blog. Também sou das pessoas que alinha os cantinhos que vai fotografar e já ultrapassei os 30 álbuns de fotos, que me aquecem o coração nos momentos mais frágeis. O seu bebé é Adorável !!! FELICIDADES ! Faz-me reviver a minha “bebé” que para o mês que vem fará se Deus quiser 24anos, a minha amada Sofia.
    Adorava que espreita-se o blog que comecei a construir (lovecraft2012.@blogspot.pt)e que muito me ajuda, nesta altura em que fiquei desempregada após 30 anos de serviço. O lado positivo, e esse é o que valorizo, é o grande prazer de conseguir executar as manualidades que nunca tive tempo de realizar.´
    Serei sempre seguidora do seu blog e fico orgulhosa de sentir que também tem Portugal no coração e é um ser de grande sensibilidade.

    Um enorme abraço, cheio deste nosso Sol

    Ana Antão Lopes

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